sexta-feira, 21 de maio de 2010

DEPOIMENTO TDAH


O texto, cuja avaliação implicava em nota, foi solicitado a cada aluno pelo professor da cadeira, com o objetivo de conhecer um pouco da trajetória pessoal da turma. Ele, meu filho, recebeu grau dez, fazendo com que todos nós chegássemos às lágrimas, inclusive o próprio professor que acabara de conhecê-lo.

A partir das inúmeras solicitações de cópias que tenho recebido do Brasil inteiro, decidi postar o texto aqui no site. No entanto, na condição de mãe, preciso fazer alguns comentários ligados ao texto que vocês lerão em seguida.

Em primeiro lugar, quero enfatizar que apesar de todas as dificuldades que enfrentamos naquela época, em função da falta de informação sobre TDAH por parte de algumas escolas, médicos, profissionais... talvez o pior obstáculo com o qual nos deparamos tenha sido a arrogância, a prepotência e a insensibilidade daqueles que se diziam educadores, mas que optaram por EXCLUIR covardemente o que desconheciam, O TDAH representado naquele momento pelo meu filho, para não terem que experimentar o desafio e a impotência de encarar as suas próprias limitações ou a ignorância que não ousa se superar pela busca do conhecimento.

Aos “terapeutas” que tanto insistiram na tese de que TDAH não existe, que era uma doença inventada pela Indústria Farmacêutica, que a medicação era absolutamente perigosa e desnecessária, que se tratava de “falta de limites”, culpa minha, complexo de Édipo, blá, blá, blá.... Se por um lado lamento o tempo perdido, por outro, agradeço-os por terem me dado à oportunidade de olhar nos seus olhos e perceber o quanto estavam equivocados, aprisionados no estreito universo daqueles que só admitem uma corrente de saber - a própria.

A escola, em especial aquela que sumariamente reprovou o meu filho por não conseguir “
ficar atento e ser muito agitado”, ao coordenador que disse que “o conselho de classe era soberano para punir alunos que não se esforçam”... a todos que um dia tentaram atrapalhar o seu caminho, plagiando o poeta Mario Quintana, digo:Eles passaram, ficaram no passado.Meu filho é que era passarinho, voa com sucesso rumo ao futuro. Finalmente, meu afeto e eterna gratidão ao Prof. Paulo Mattos, grande amigo, por ter mostrado ao meu filho um caminho que ele já acreditava não existir e, ao Colégio A. Liessin pela forma acolhedora com que o recebeu, o que fez toda diferença para que ele pudesse provar que o sucesso era possível.

Baailarina


Na ponta dos pés
Pernas e braços se movem
E com gestos singelos
Pôs-se a dançar
Com movimentos abertos
Sorriso estampado
Fez com delicadeza
Sua alma falar
E sentimentos expostos
Com sua dedicação
De olhos fechados
Pôs-se a chorar
Desceu da ponta da sapatilha
E com prece sentida
Silenciosamente pediu
Para a dança sua vida mudar.

NÃO VÁ EMBORA



Nós nos sentamos e apenas observamos as pessoas que amamos irem embora. Olhamos para o lado e vemos elas se afastando, escapando por entre nossos dedos.
Imploramos silenciosamente para que fiquem, para que decidam lutar mais um pouco. Nossas mentes e corações gritam freneticamente coisas que não conseguem se concretizar em palavras, seja por medo ou orgulho, mas apenas rolam em lágrimas fugidias e muitas vezes negadas no meio de cada noite.
Deparamos-nos com o vazio que a perda causa. Inquietamos-nos e por fim percebemos o quanto precisamos que aquela pessoa fique.
Pedimos, então, que volte, desejamos que volte, esperamos que volte. Alimentamos a esperança de que tudo que precisamos é um pouco mais de tempo para apenas fazermos as coisas certas. Mais uma chance.
Ou talvez precisemos mesmo é cometer o mesmo erro centenas de milhares de vezes. Talvez precisemos mesmo é da presença, nem que seja sofrida, do ser amado.
Precisamos dedicar esse amor, mesmo mudo, a alguém insubstituível.
Precisamos sentir essa presença, para que possamos ter a certeza daquela vida, porque essa vida em si já basta.
Por: Bianca Vieira
Em: 02/04/2010

PASSARELA



Franjas e babados balançam nessa passarela em que desfilam não apenas sapatos Christian Dior, mas também lágrimas, sorrisos, sofrimento, felicidade, lições de vida, nuvem, fogo e, acima de tudo, futilidade.
Essa roupa cor de negro, cor de mulato, de índio, de branco, cor de pátria, que desfila em ossos de humanidade, exibem os sete pecados capitais em olhos que não se olham mais (não precisa).
O ruivo, o preto, o loiro em cachos ou lisos longos e curtos que aquecem a essência que aos poucos foi esquecida, transformando o grande prazer de pensar e criticar até mesmo em ignomínia. Cuidado! Pensamentos libidinosos não alimentam a essência, apenas dão prazer momentâneo - imaginário – e não sustentam a personalidade exigida para a perpetuação.
Esse samba, esse balanço, que deixou de alimentar cultura e tradição, balança luxuria – tradição.
A escola da vida não é mais respirar – viver – errar – aprender. Os olhos enxergam essa passarela, e o que os olhos não podem ver, a futilidade sente e comanda. E no dia em que as máscaras caírem, a padronização de pensamento terá que ser feita de outra forma – talvez as câmeras, microfones e comentaristas já tenham sido extirpados.
Por: Bianca Vieira
Em: 07/04/2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Impulsivamente EU


"Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se trata de intuição, mas de simples infantilidade. Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. Há um perigo: se reflito demais, deixo de agir. E muitas vezes prova-se depois que eu deveria ter agido. Estou num impasse. Quero melhorar e não sei como. Sob o impacto de um impulso, já fiz bem a algumas pessoas. E, às vezes, ter sido impulsiva me machuca muito. E mais: Nem sempre os meus impulsos são de boa origem. Vêm, por exemplo, da cólera. Essa cólera às vezes deveria ser desprezada; outras, como me disse uma amiga a meu respeito, são: cólera sagrada. Às vezes minha bondade é fraqueza, às vezes ela é benéfica a alguém ou a mim mesma. Às vezes restringir o impulso me anula e me deprime, às vezes restringi-lo dá-me uma sensação de força interna. Que farei então? Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.
C.L.

PRECISÃO


O que me tranqüiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição.