Cigana Oswaldo Montenegro

Eu me vesti de cigana
Pra cantar o sol
Fiz comício e deu cana
Pra cantar o sol
Ah, que riso bacana
Pra cantar o sol
Virtuosa e sacana
Pra cantar o sol

Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo amor que emanar, pra cantar o sol

Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo amor que emanar, pra cantar o sol

Fui quem se dava e se dana
Pra cantar o sol
Quem não mente, te engana
Pra cantar o sol
Quem teu hálito abana
Pra cantar o sol
Virtuosa e profana
Pra cantar o sol

Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo amor que emanar, pra cantar o sol

Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo amor que emanar, pra cantar o sol

Fiz do meu corpo cabana
Pra cantar o sol
Fiz de um ano semana
Pra cantar o sol
Fiz do amor porcelana
Pra cantar o sol
Fui cigarra e cigana
Pra cantar o sol

Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo amor que emanar, pra cantar o sol

Fui tua mão que me esgana
Pra cantar o sol
O que o brilho não empana
Pra cantar o sol
Meu amor tinha gana
De cantar o sol
Virgem santa e sacana
Pra cantar o sol

Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo amor que emana, pra cantar o sol

Silêncio

A loucura é um lugar pra poucos, a maioria das pessoas se contentam com a lucidez. -Eu não sou uma delas.
A loucura é pequena e estreita, mas ela é grande, infinita tanto que se não tiver cuidado, você pode se perder. - Mas quem disse que eu quero me achar.

Metade Oswaldo MonteNegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

E que se perca
que se perca o unico dia em que nao se dancou
que se perca o unico dia em nao se transformou em outro
que se perca o unico dia em nao em que por um instante nao se mostrou integralmente
que se perca o unico dia em que nao se brincou de amar
que se perca o unico dia em nao se fez arte na sua vida

qnts pessoas nao perdem seus dias suas vidas, simplesmente completando-a com tarefas e pessoas
a vida deve ser vivida com trabalho e dividida com amores

tais dias sao perdidos, por que se quer valeram a pena

E que o amor seja o unico jeito de se comunicar

Ah deixa a musica rolar sozinha que eu quero dançar em companhia. Apaga esse vapor barato que o quarto já nos leva em melodia, beija-me a boca e se quiser deixo você me contar um novo segredo, mas só um os outros guarde com você, mistério também é bom. Escreve aí um poema no guardanapo que é pra eu guardar no bolso e depois perder, mas primeiro me perder em você. Depois me acho. Sei lá, se dou por mim me encontro até meio assim sem ar no meio de outros braços e me doando pra outros corpos. Talvez até peço pra outro alguém abrir o vinho, se não abro eu mesma sozinha e fico por assim dizer fazendo companhia pra solidão. Posso descrever o seu sorriso e dizer que não gostaria de viver sem ele, mas meu bem também sei descrever outros tantos sorrisos que isso até me faz sorrir sem perceber

O submarino

Sinceramente , nunca me imaginei apaixonado por alguém. Amor é uma coisa muito genial para ser normal. A síntese do genial estado amoroso é: "Não posso parar que minha cabeça começa a rodar." O amor requer tempo integral. hora extra e serões intermináveis. Mulheres ja haviam atravessado meu caminho, mas até então nenhuma que me fizesse mudar de calçada. O amor atrapalha muito o trabalho, e tumultua a vida. Era assim que eu pensava até que eu esbarrei nela. Não sei porque, mas me veio a mente uma frase de almanaque, fiquei pensando nas palavras e nem me dei conta de que tinha mudado de calçada. Ela achou que era poesia. Gostei de ser poetas por alguns minutos, e fiz minha escolha. O nome dela é Rita e dessa vez é pra sempre.

Miguel Falabela e Maria Carmem Barbosa

A capacidade de ver através da tigresa

Então mama, mama, a outra teta, puxa, o leite desce deslizando, e assim eu vou inchando. Ai, começa a sair até pelas minhas narinas, minha barriga está gemendo, nossa! outra teta, agora acho que vou estourar... queria cuspir tudo fora, mas essa aí parece ser tão louca, que mesmo se eu cuspinhar só um pouquinho de leite, ela vai ficar nervosa.Ah, muito bom! Acabou?Faço uma dobrinha, a tigresa se vira: outro tetaral! Parecia que estava em Xangai na linha de montagem: mama, mama até sair pelas orelhas... se eu soltar um arrotinho, estouro! Preciso manter as nádegas fechadas,apertadas, porque se eu tiver uma desinteria, lanço jatos e espirro o leite todo para fora... ela fica nervosa e me agarra, pensa que eu sou um biscoitinho, me molha no leite, e me devora vivo! Ufa, acabei, a tigresa me dá uma lambida, todos os olhos miram para o alto, até pareço um mandarim... ela dirige-se para o fundo, rebolando tranquilamente, se deita.Dorme. Embevecido, bêbado de leite, adormeço como uma criança... De manhã, acordo: o chão todo molhado! Se a tigresa percebe... Olho para o fundo da caverna:cadê? ... Não está... a tigresa não está.

-Dário Fo

Folhetim - Chico Buarque

Mas na manhã seguinte

Não conta até vinte:

Te afasta de mim,

Pois já não vales nada,

És página virada,

Descartada do meu folhetim.

A única coisa definitiva na minha vida é a mudança, não estou pronta pra algo além disso.

Ruim com ele, pior sem ele

Um cigarro e um amor, por favor.

Garota de Aluguel

Me dê uma dose do seu amor para eu me embebedar –Huuuum. Um gosto doce de vinho, e uma vontade louca de virar  a garrafa. 

–Calma? Você quer que eu tenha calma? Você invade meu coração, toma pra si meu corpo e agora quer que eu tenha calma. Brincou com a pessoa errada. Você não é capaz de cuidar do que tem. Já não tem mais  volta, não controlo meus desejos e, meus  pensamentos só querem você.

 –Por favor me desculpe, eu me descontrolei um pouco. Não me peça para parar, não me peça para controlar. Eu sou fogo, fogo que arde, incendeia e tormenta.

- E você? Você é água  Minha água  água que matou minha sede, que lavou minha alma. (Sem nenhuma expressão ele sai de perto, fuma um cigarro, deita na cama, e eu me aproximo sem ser convidada apenas pra sentir o calor dele, como se fosse meu, mais uma vez)

,...Enxugo uma lágrima caindo do canto direito do rosto, retoco meu batom, um beijo curto no canto da boca enquanto ele dorme, pego o resto dinheiro em sua carteira.

. – O amor acabou, mas a minha noite não.

Insegurança

Um medo infantil e quase incontrolavel de te perder.

Um medo também de te ter e perceber que sem você vai ser difícil continuar

Um medo tolo e quase doente, de que vc esteja na cama amando outra, como não me amou

Uma saudade absurda dos teu olhar dentro de mim.

Uma vontade irritante de ter você .

A.F.R.

Segure minha mão, isso, mas não aperta tanto porque as vezes, eu gosto andar só. Ok, mas não afrouxa tanto, porque eu costumo me soltar com facilidade.

Bia Vieira

Já Faz Tempo que Escolhi

A luz que me abriu os olhos
para a dor dos deserdados
e os feridos de injustiça,
não me permite fechá-los
nunca mais, enquanto viva.
Mesmo que de asco ou fadiga
me disponha a não ver mais,
ainda que o medo costure
os meus olhos, já não posso
deixar de ver: a verdade
me tocou, com sua lâmina
de amor, o centro do ser.
Não se trata de escolher
entre cegueira e traição.
Mas entre ver e fazer
de conta que nada vi
ou dizer da dor que vejo
para ajudá-la a ter fim,
já faz tempo que escolhi.

Rio de Janeiro, 1981


Publicado no livro Mormaço na Floresta (1981).

Thiago de Mello

Carinho, isso sempre acaba mal.

 - O Jardim das Cerejeiras.

COTIDIANO - Vale a pena?

Um Olhar,
Um sorriso encabulado, 
Aperto de mão. 

Desejo. 

Conversas, 
Um local proibido...
Um beijo de paixão, - Ok, sem despedidas.

Um Olhar...

Verônica Melo

Virginianos

Desarrume as malas. Coloque os pés no chão. Deixe os sonhos de lado. Pronto? 
Agora vá tomar um banho e limpar essa felicidade do rosto.